07 fevereiro, 2012

Aos que não sentem...


"O Mundo é de Quem não Sente

O mundo é de quem não sente. 

A condição essencial para se ser um homem prático 
é a ausência de sensibilidade. 
A qualidade principal na prática da vida 
é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade. 
Ora há duas coisas que estorvam a acção 
- a sensibilidade e o pensamento analítico, 
que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. 
Toda a acção é, por sua natureza, 
a projecção da personalidade sobre o mundo externo, 
e como o mundo externo é em grande e principal parte 
composto por entes humanos, segue que essa projecção da personalidade 
é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alhieo, 
o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir.
Para agir é, pois, preciso que nos não figuremos com facilidade 

as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. 
Quem simpatiza pára. 
O homem de acção considera o mundo externo como composto 
exclusivamente de matéria inerte - ou inerte em si mesma, 
como uma pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; 
ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, 
tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, 
ou se afastou ou se passou por cima."
 

O Livro do Desassossego, Fernando Pessoa






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