05 novembro, 2012



                                     No fim de tudo dormir.
                                     No fim de quê?
                                     No fim do que tudo parece ser...


                                                 Álvaro de Campos, in "Poemas"
 

18 outubro, 2012



                                      E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre... 
                                      Reticências, Álvaro de Campos

07 outubro, 2012



                                      E se inventássemos o mar de volta?
                                      Partir para regressar.

31 agosto, 2012

11 agosto, 2012



                                     - São sacos de cimento.
                                     - Pode ser. Ou a vida em obras...

12 julho, 2012



                                      Exorcizar o medo. 

                                      "perturba-me a perfeita atenção às minhas sensações, o que me incomoda e me despersonaliza."
                                      Fernando Pessoa 

09 junho, 2012




                                      A espera.



                                       As Horas.


30 maio, 2012

19 maio, 2012



                                      Ilusão. Realidade. Não é assim?!

12 maio, 2012



                                      Devagar se vai ao longe. Ou talvez não...

04 maio, 2012



                                                            O eterno retorno... ainda sem respostas.

18 março, 2012




Fico Sozinho com o Universo Inteiro
 
Começa a haver meia-noite, e a haver sossego,
Por toda a parte das coisas sobrepostas,
Os andares vários da acumulação da vida...
Calaram o piano no terceiro andar...
Não oiço já passos no segundo andar...
No rés-do-chão o rádio está em silêncio...

Vai tudo dormir...

Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino! —
Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel — demasiado rápido! —
Os duplos passos em conversa falam-me...
O som de um portão que se fecha brusco dóí-me...

Vai tudo dormir...

Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

04 março, 2012






Os Caminhos Desapareceram da Alma Humana
 
Caminho: faixa de terra sobre a qual se anda a pé. A estrada distingue-se do caminho 
não só por ser percorrida de automóvel, mas também por ser uma simples linha ligando 
um ponto a outro. A estrada não tem em si própria qualquer sentido; só têm sentido os
 dois pontos que ela liga. O caminho é uma homenagem ao espaço. Cada trecho do caminho
 é em si próprio dotado de um sentido e convida-nos a uma pausa. A estrada é uma 
desvalorização triunfal do espaço, que hoje não passa de um entrave aos movimentos do
 homem, de uma perda de tempo.    
Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos desapareceram da alma humana: 
o homem já não sente o desejo de caminhar e de extrair disso um prazer. E também a sua 
vida ele já não vê como um caminho, mas como uma estrada: como uma linha conduzindo 
de uma etapa à seguinte, do posto de capitão ao posto de general, do estatuto de esposa 
ao estatuto de viúva. O tempo de viver reduziu-se a um simples obstáculo que é preciso 
ultrapassar a uma velocidade sempre crescente.

Milan Kundera, in "A Imortalidade"

26 fevereiro, 2012



                                                         Faith to remember...

20 fevereiro, 2012



                                       "Space Oddity"

16 fevereiro, 2012





Inquietação

A contas com o bem que tu me fazes
A contas com o mal por que passei
Com tantas guerras que travei
Já não sei fazer as pazes
São flores aos milhões entre ruínas
Meu peito feito campo de batalha
Cada alvorada que me ensinas
Oiro em pó que o vento espalha
Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
Ensinas-me fazer tantas perguntas
Na volta das respostas que eu trazia
Quantas promessas eu faria
Se as cumprisse todas juntas
Não largues esta mão no torvelinho
Pois falta sempre pouco para chegar
Eu não meti o barco ao mar
Pra ficar pelo caminho
Cá dentro inqueitação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
Cá dentro inqueitação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda.

08 fevereiro, 2012



                                      Aos que sentem...

07 fevereiro, 2012

Aos que não sentem...


"O Mundo é de Quem não Sente

O mundo é de quem não sente. 

A condição essencial para se ser um homem prático 
é a ausência de sensibilidade. 
A qualidade principal na prática da vida 
é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade. 
Ora há duas coisas que estorvam a acção 
- a sensibilidade e o pensamento analítico, 
que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. 
Toda a acção é, por sua natureza, 
a projecção da personalidade sobre o mundo externo, 
e como o mundo externo é em grande e principal parte 
composto por entes humanos, segue que essa projecção da personalidade 
é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alhieo, 
o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir.
Para agir é, pois, preciso que nos não figuremos com facilidade 

as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. 
Quem simpatiza pára. 
O homem de acção considera o mundo externo como composto 
exclusivamente de matéria inerte - ou inerte em si mesma, 
como uma pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; 
ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, 
tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, 
ou se afastou ou se passou por cima."
 

O Livro do Desassossego, Fernando Pessoa