31 março, 2012
18 março, 2012
Fico Sozinho com o Universo Inteiro
Começa a
haver meia-noite, e a haver sossego,
Por toda a parte das coisas sobrepostas,
Os andares vários da acumulação da vida...
Calaram o piano no terceiro andar...
Não oiço já passos no segundo andar...
No rés-do-chão o rádio está em silêncio...
Vai tudo dormir...
Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino! —
Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel — demasiado rápido! —
Os duplos passos em conversa falam-me...
O som de um portão que se fecha brusco dóí-me...
Vai tudo dormir...
Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Por toda a parte das coisas sobrepostas,
Os andares vários da acumulação da vida...
Calaram o piano no terceiro andar...
Não oiço já passos no segundo andar...
No rés-do-chão o rádio está em silêncio...
Vai tudo dormir...
Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino! —
Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel — demasiado rápido! —
Os duplos passos em conversa falam-me...
O som de um portão que se fecha brusco dóí-me...
Vai tudo dormir...
Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
17 março, 2012
15 março, 2012
04 março, 2012
Os Caminhos Desapareceram
da Alma Humana
Caminho: faixa de terra
sobre a qual se anda a pé. A estrada distingue-se do caminho
não só por ser
percorrida de automóvel, mas também por ser uma simples linha ligando
um ponto
a outro. A estrada não tem em si própria qualquer sentido; só têm sentido os
dois
pontos que ela liga. O caminho é uma homenagem ao espaço. Cada trecho do
caminho
é em si próprio dotado de um sentido e convida-nos a uma pausa. A
estrada é uma
desvalorização triunfal do espaço, que hoje não passa de um
entrave aos movimentos do
homem, de uma perda de tempo.
Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos
desapareceram da alma humana:
o homem já não sente o desejo de caminhar e de
extrair disso um prazer. E também a sua
vida ele já não vê como um caminho, mas
como uma estrada: como uma linha conduzindo
de uma etapa à seguinte, do posto
de capitão ao posto de general, do estatuto de esposa
ao estatuto de viúva. O
tempo de viver reduziu-se a um simples obstáculo que é preciso
ultrapassar a
uma velocidade sempre crescente.
Milan Kundera, in "A Imortalidade"
Milan Kundera, in "A Imortalidade"
03 março, 2012
Subscrever:
Mensagens (Atom)